sexta-feira, 12 de setembro de 2014

conto (re) Encontro.

O meu conto de chama o ( Re) Encontro...

O (Re) Encontro

1

—Precisamos conversar, justo agora?
—Sim precisamos.
A voz feminina foi firme em sua resposta para o homem que tinha acabado de chegar, e que quando acendeu a luz a encontrou ali, sentada no sofá, da pequena sala confortável.
—E sobre o que quer falar.
A mulher tinha um olhar doce, e ainda sim esperando por algo, ela o analisava de cima a baixo, e como não houve reação alguma, pediu para que se sentasse.
—Pronto— Reclamou ele —Estou sentado, o que quer me falar, o que essa sua cabeça ficou pensando o dia todo.
—Em nós, eu pensei em nós dois...
O homem de camisa social branca, com a gravata frouxa, o paletó levemente amassado, sentando a uma boa distancia dela, sorriu, balançando a cabeça de um lado para o outro.
—Pensou, e você pensou em quê?
—Em tudo, e tomei uma decisão.
Ele ainda não a encarava, afinal ele nunca a encarava quando ela começava com algum assunto, nem mesmo quando perguntava se a comida estava do seu agrado, ele apenas respondia agitando a cabeça, para sim ou para o não.
—Eu preciso me libertar de você, definitivamente, e dessa vez eu falo sério.
Ele ainda continuou parado, olhando para o chão, não se movia parecia pensar sobre aquelas palavras.

—Tem certeza disso? Tem certeza Ângela...
Depois de tanto tempo, ele a chamou pelo nome!
—Tenho. Eu preciso que você saia e não volte mais, eu encontrei uma pessoa, na verdade vou ao encontro dele dentro de poucos minutos e não posso deixar que você viva aqui comigo, nessa casa... Você agora será apenas uma lembrança.
—Amarga lembrança não é querida Ângela...
—Você sabe que um dia teria que partir e dessa vez para sempre.
Ele levantou do sofá, pegou o paletó e a mala, olhou para a porta, e sem encara-la respondeu.
—Então não me chame mais Ângela, nem nas suas lembranças ou em seus sonhos, e espero que ele seja bom para você.
—Ele será, tenho certeza.
E então ele partiu, sem mais perguntas, injurias ou gritos, ele apenas partiu.

Então com o som estridente do telefone, Ângela acordou.
Ela acordou assustada olhou em volta, estava em casa, à sala estava escura apenas iluminada através das cortinas da janela que ainda estavam abertas.
—Que sonho estranho... — disse para si mesma.
Ângela tinha sonhado com o seu ex-marido.
E aquela noite de sexta-feira, tinha resolvido sair com as amigas. Após três anos vivendo presa nas lembranças de um casamento infeliz, finalmente resolveu tirar o luto e voltar a ser feliz.


2

Ângela acabou esquecendo-se do sonho, um pequeno pesadelo com o ex-marido, afinal ela descobriu da sua traição no mesmo dia que o perdeu para a morte. Um acidente de carro, depois de uma reunião que todos souberam que não foi de uma reunião que ele saiu e sim de um hotelzinho beira de estrada, junto com uma colega do trabalho.

Ângela pensou que jamais superaria tamanho golpe. O amor não foi e nunca será para uma mulher como ela e desde então evitava qualquer novidade amorosa, qualquer sentimento mais forte que um dia já sentiu por alguém. Ela tinha medo do amor.
E aquela noite, depois de tanta insistência de algumas amigas do trabalho, acabou aceitando a carona e o convite para uma festa, de um colega do trabalho, Ângela não o conhecia, apenas o viu algumas vezes pelos corredores, mas como trabalhava num prédio de vinte andares, não dava para conhecer todo mundo. Ainda mais ela que estava sempre atenta aos papeis e a tela do computador do seu setor.

Gilda e Carla fizeram grandes elogios quando a viu na portaria do prédio, pronta, arrumada e perfumada.

—Demoramos Ângela?
—Nem um pouco Carla, e ainda tirei um cochilo, hoje o dia foi cansativo. Ufa.
—Hoje foi mesmo— comentou Gilda no volante — Parece que adivinharam que tínhamos a festa do Carlos Henrique para ir, acho que todos já devem ter chegado e que bom Ângela que está indo com a gente.
As três sorriram e num clima animado seguiram para a festa.

O salão estava iluminado por luzes florescentes, a musica era agitada, tinha mesas e cadeiras e em volta tinha um tablado que estava sendo usando pelo dançarinos mais animados, a piscina também estava cercada por luzes coloridas e algumas velas aromáticas e coloridas em pequeno barquinhos boiavam sobre a água. Ângela gostou do ambiente, das musicas e da comida e também das bebidas que eram servidas.
Quando o aniversariante passou pela mesa onde Ângela estava, e com um tom educado cumprimentou Carla e Gilda e quando aproximou de Ângela, pediu uma dança.
Ângela não entendeu bem aquele pedido, e não foi pela musica alta, pois bem naquele momento uma musica suave invadiu o salão e alguns casais começavam a dançar pelo salão.
Ângela presa naquele olhar sério e enigmático daquele homem que viu pouquíssimas vezes, mas que era sempre gentil e solicito e ele até tinha enviado um cartão de condolências quando ela perdeu o marido e um telefonema, mas ela não atendeu, pois sofria muito com sua perda.

—Você não se lembra de mim?




3

—Trabalhamos juntos, não é?
—Não, eu quero dizer, antes de tudo isso, antes mesmo do seu casamento com o Caio.
—Você conhecia o Caio.
—Eu conhecia vocês do clube, isso já tem alguns anos...
—Eu sempre ia ao clube da família do Caio, na adolescência, mas não me lembro de você, me desculpe Carlos.
—Não se culpe Ângela, na época a timidez me proibia de muitas coisas, e uma das quais não me perdoo era ter perdido você, ou melhor, a oportunidade de ter conhecido você...
—Sério isso Carlos? Eu nunca poderia suspeitar disso tudo que está me contando.
—Quando nos encontramos novamente, eu separado e você casada, não poderia fazer nada, mas agora quero tentar Ângela...
Ângela olhava aquele homem alto, cabelos escuros, com um olhar bondoso onde sempre cativava por onde passava.
E que com aquelas palavras, sorrisos e ao som daquela musica, algo mexeu com ela, ou porque não dizer, aqueceu o coração daquela jovem mulher que sofreu uma grande desilusão amorosa após o casamento, pelo menos nunca deixou a carreira estável para seguir com Caio, e nunca poderia imaginar que Carlos Henrique sempre esteve a sua espera.

—Eu ainda estou um pouco... Surpresa eu acho que essa é a melhor palavra para definir o que estou sentido, afinal essa aqui é sua festa e não estava preparada para ouvir tudo isso...
—Eu pedi para que a trouxesse, sei que sai pouco e a Gilda disse que me ajudaria e a Carla que é sua amiga disse que faria de tudo para trazê-la  aqui se eu não perdesse a oportunidade de contar o que sinto, na verdade o que venho guardando durante esse tempo todo.
A voz macia, com pequenas pausas e um olhar fixo ao dela, foi assim o restante da noite. Carlos a manteve ao seu lado a noite toda, dançaram, conversaram a noite toda, de longe as amigas sorriam e brindavam ao novo casal.
Ângela sorriu aquela noite.

Carlos Henrique não queria mais esconder o que sentia por Ângela, e tinha decidido isso que aquela noite e não deixaria o seu amor escapar, a menina mais linda do clube, a mulher mais bonita do trabalho, que estava perdendo o brilho por conta de um amor triste que ela viveu nos últimos anos.
E decidido e com a ajuda de pessoas queridas, ele lutaria pelo amor daquela mulher.

E seria assim pelos os anos que seguiram...
Ângela deixou Carlos entrar, não apenas na sua rotina, ou na roda familiar e sim no seu coração para sempre, esquecendo de vez antigas lembranças.
Carlos entrou nos espaços que Ângela foi permitindo e até o final ele só queria uma única coisa, em amar para sempre aquela mulher.
Lágrimas agora seriam só de felicidades.


(Fim)



c Roberta Del Carlo c