quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A Bagagem

—Nossa! Será que estou muito atrasado?
 O homem perguntou assim que entrou na fila que a moça do outro balcão o indicou a seguir.  A sua frente, tinha um senhor cheio de malas e que respondeu sem muito olhar para o recém-chegado.

— Não tenha pressa, ninguém aqui tem pressa.

—Nossa o senhor tem muito peso ai hein...
O homem com jeito de ser rabugento, olhou para ele, e reparou que o homem só carregava uma mala só e pequena.

—Quer ajuda?

—Não— respondeu seco — Isso é coisa minha, preciso despachar isso antes de partir, caso essa fila ande...

—Olha está andando um pouco— disse o homem para o mais velho.

Os dois deram alguns pequenos passos.

O homem olhou de novo para o mais jovem e disse:

— Só tem apenas essa mala?

—Só.

— Não vai deixar nada para ninguém?

— Acho que não  eu tinha uma um pouco maior, mas fui mudando ao longo tempo, é até estranho. Eu me sinto mais leve, mas e o senhor já trocou alguma dessas?

O homem olhou para as malas, umas grandes, outras medidas, pesadas e leves, bonitas e feias. E respondeu:

—Não, eu nunca troquei nenhuma, nunca gostei delas, olha essa vinho aqui, tão antiga e nada leve, mas elas já estavam me esperando em casa mesmo, outras foram chegando com o tempo, e agora vou passar para outra pessoa.

—O senhor levou esse peso todo, durante a vida inteira?

—Sim, carreguei mas hoje ainda mais nessa fila, que não anda fico pensando se valeu a pena, e eu acho que não.

—Sinto muito senhor, acho que com todo esse peso eu entendo a sua exaustão e pressa, eu mesmo não saberia o que fazer. Mas posso perguntar uma coisa, para quem vai deixar essas malas?

—Essas malas aqui, lendo esse manual aqui, eu deixaria apenas uma, do tamanho dessa sua, mas vou deixar todas para os meus filhos mesmo.

O homem olhou aquela quantidade de malas e balançou a cabeça pensativo.

De repente uma voz soou pelos alto falantes comunicando

Senhores e Senhoras com bagagens leves e no máximo duas de unidades por favor encaminhar para o setor azul, lá nossos atendentes já estão treinados para recebe-los com mais conforto  e agilidade. Aos demais por favor permaneçam na fila.

Os dois se olharam e olharam para as malas.

—Eu tenho que ir. Adeus senhor.

—Adeus.

O rapaz partia para o outro corredor que tinha entrada para o setor azul.

Enquanto o homem bufara, olhando para suas malas, que estavam difíceis de serem despachadas e então, sentou em cima de uma delas e mais uma vez relia aquele velho manual.

—Minha vida poderia ter sido melhor, sem esse peso todo com certeza...

E o homem ficou ali durante um bom tempo, lendo e relendo aquele manual sem mais utilidades, esperando naquele terminal sem fim.

c Roberta Del Carlo c 


5 comentários:

  1. Roberta, a verdade é que a vida é uma espera sem fim! Acho que nunca deixaremos de esperar que algo mude, sempre teremos sonhos de coisas melhores...

    Abraços, Isabela.
    www.universodosleitores.com

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  2. E quanto tempo nós perdemos lendo manuais/buscando respostas, né? E quantas vezes em vão... Beijos, florcita.

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  3. E quanto peso morto, tem pais que carregam e depositam em seus filhos não é? rs

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  4. E quanto peso morto, certos pais deixam para os seus filhos não é? rs

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