Ela era uma filha da desilusão e não sabia, só soube, quando a amor
entrou sem pedir licença na sua vida.
A vida era normal como de qualquer garota, apesar da dose forte de
rigidez dos pais, que poderia ser mesclada com proteção e educar, mas essa
proteção passou por anos, passou a infância, a adolescência e
chegava agora na maturidade e com grande sucesso!
Sempre ali, à espreita com um sorriso irônico em tardes de
sol agradáveis ou em noites estreladas...
A menina crescia, na escola não deu trabalho mas também não se destacou
como algumas meninas, nem sempre era convidada para festas ou passeios, já que
sempre tinha que dar certas desculpas, dizendo que iria viajar ou uma tia de
longe iria visita-los, mas nada disso acontecia de verdade.
A filha da desilusão era filha de pais retraídos, sua mãe casou
apostando tudo naquele casamento, já que não namorou o rapaz mais lindo da
escola aquele que fazia o coração disparar, coisa que o seu marido nunca
conseguiu fazer, mas mesmo assim achou que seria diferente, achou que acordaria
mais bela, que suas vizinhas iriam gostar mais dela, na loja que trabalhava
chegaria a gerência mas tudo dentro do tempo que ela queria, então
para ontem.
Só que nem tudo correu dessa forma, quando começou a ver que a sua casa
não era a mais bonita da rua, que os fios brancos iriam aparecer
mais rápidos que o da prima que tem a mesma idade, seu marido
perderia um pouco da juventude, e sempre teria uma mocinha mais
novinha que chamaria a atenção do patrão.
E os filhos? oh filhos, esse mundo está perdido!!!
''viu a filha da vizinha engravidou aos
quinze!''
''nossa coitada da Célia, o filho
envolvido com más companhias''
Até que um dia a menina quer sair, ver o que o mundo tem para oferecer e
ter novas amizades, novas histórias...
Mas sempre aquela proteção derrubava tudo, e a vida passa e as (poucas)
amigas partem...
Recorrer ao pai? sim era uma ideia, mas outra vez em vão, já que sempre
estava cansado pensando nas contas mensais, sem tempo para nada, passando seus
domingos na frente da televisão ou cochilando no sofá. Mas ele nunca disse que
durante o caminho para o trabalho via uma mulher no ponto de ônibus e
essa chamava a atenção dele. E das ilusões que criara ao ver aquela mulher
misteriosa que parecia ser distinta e sempre pontual e descia dois pontos antes
dele.
Seu pai jamais admitiria que pensava em um dia qualquer dar um ''bom
dia''.
Ele sentia-se predo e culpado por esses sentimentos e então achava
melhor concordar com tudo que a esposa queria.
Uma vez pensou em pedir a separação até que na segunda gestação veio um
menino, e ele um senhor tão bem visto por amigos e famílias não
abandonaria o casamento e nem mesmo iria fazer o que o pai fez, que o deixou
ainda pequeno, agora teria um filho homem, e daria tudo o que não teve.
Os pais nunca souberam negar nada a o filho, e quando era nada era nada
mesmo...
De carinhos a carro sem carta de habilitação, a elogios em rodas familiares
a saídas sem horas para voltar...
Cansada de viver nisso, a filha da desilusão resolver a
aceitar aquela saída de sábado, de pizzaria a balada.
Em casa disse que dormiria numa amiga, já que se sair com as pessoas do
serviço iria ouvir '' nossa você sempre reclama deles e ainda vai
sair com eles? ou essa '' dançar?! e você dança minha filha eu nunca
vi''
Mas foi naquela noite que ela conheceu o amor. Ela sabia que era o amor
mesmo, de verdade.
Ele não era como os personagens dos filmes, nem faria suas primas
suspirarem mas era ele ali na sua frente, simples com o olhar doce e atencioso,
eles nunca tinham se vistos era amigos dos amigos...
Ele tinha a mistura que ela tanto queria, um misto de garoto revoltado
com amadurecimento, não era certinho mas também não largadão, seu sorriso que
gostava do livros, das músicas que ela também gostava, fora o seu mundo inteiro
disposto para dar a ela. Sim a desilusão foi embora feliz, como uma noite pode
ter acontecido tanta coisa, eles conversaram, dançaram riram e beberam, comemorarão
a vida, com promessas de repetição...
Mas a vida virou o avesso, semanas depois teve que contar para os pais que
estava amando e era amada.
A mãe a xingou! O pai se calou e o irmão riu.
Sim ela teria que aguentar tudo sozinha, no silencio da sua vida...mas
não desistiria...
Um dia, depois de uma decisão, a filha da desilusão chega em casa com o
amor do seu lado, fora o amor depositado pela família dele como a
confiança, a alegria, e a sabedoria, que ajuntando tudo isso criaram a coragem!
Ela não se arrependeu mesmo com os berros da mãe e a tristeza do pai, e
a imaturidade do irmão.
No fundo ela sabia que seus pais eram como crianças ainda tentando
descobrir o que ser quando crescer, oras acertando o passo, oras se omitindo
como pais...
Mas ela não iria desistir!
E foi embora, foi viver a sua vida, casou-se e foi escrever a sua história,
que agora pertenceria só a ela!
Apenas a ela!
c Roberta Del
Carlo c
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