O (Re) Encontro
1
—Precisamos
conversar, justo agora?
—Sim
precisamos.
A
voz feminina foi firme em sua resposta para o homem que tinha acabado de chegar,
e que quando acendeu a luz a encontrou ali, sentada no sofá, da pequena sala
confortável.
—E
sobre o que quer falar.
A
mulher tinha um olhar doce, e ainda sim esperando por algo, ela o analisava de
cima a baixo, e como não houve reação alguma, pediu para que se sentasse.
—Pronto—
Reclamou ele —Estou sentado, o que quer me falar, o que essa sua cabeça ficou
pensando o dia todo.
—Em
nós, eu pensei em nós dois...
O
homem de camisa social branca, com a gravata frouxa, o paletó levemente
amassado, sentando a uma boa distancia dela, sorriu, balançando a cabeça de um
lado para o outro.
—Pensou,
e você pensou em quê?
—Em
tudo, e tomei uma decisão.
Ele
ainda não a encarava, afinal ele nunca a encarava quando ela começava com algum
assunto, nem mesmo quando perguntava se a comida estava do seu agrado, ele apenas
respondia agitando a cabeça, para sim ou para o não.
—Eu
preciso me libertar de você, definitivamente, e dessa vez eu falo sério.
Ele
ainda continuou parado, olhando para o chão, não se movia parecia pensar sobre
aquelas palavras.
—Tem
certeza disso? Tem certeza Ângela...
Depois
de tanto tempo, ele a chamou pelo nome!
—Tenho.
Eu preciso que você saia e não volte mais, eu encontrei uma pessoa, na verdade
vou ao encontro dele dentro de poucos minutos e não posso deixar que você viva
aqui comigo, nessa casa... Você agora será apenas uma lembrança.
—Amarga
lembrança não é querida Ângela...
—Você
sabe que um dia teria que partir e dessa vez para sempre.
Ele
levantou do sofá, pegou o paletó e a mala, olhou para a porta, e sem encara-la
respondeu.
—Então
não me chame mais Ângela, nem nas suas lembranças ou em seus sonhos, e espero
que ele seja bom para você.
—Ele
será, tenho certeza.
E
então ele partiu, sem mais perguntas, injurias ou gritos, ele apenas partiu.
Então
com o som estridente do telefone, Ângela acordou.
Ela
acordou assustada olhou em volta, estava em casa, à sala estava escura apenas
iluminada através das cortinas da janela que ainda estavam abertas.
—Que
sonho estranho... — disse para si mesma.
Ângela
tinha sonhado com o seu ex-marido.
E aquela
noite de sexta-feira, tinha resolvido sair com as amigas. Após três anos
vivendo presa nas lembranças de um casamento infeliz, finalmente resolveu tirar
o luto e voltar a ser feliz.
2
Ângela
acabou esquecendo-se do sonho, um pequeno pesadelo com o ex-marido, afinal ela
descobriu da sua traição no mesmo dia que o perdeu para a morte. Um acidente de
carro, depois de uma reunião que todos souberam que não foi de uma reunião que
ele saiu e sim de um hotelzinho beira de estrada, junto com uma colega do
trabalho.
Ângela
pensou que jamais superaria tamanho golpe. O amor não foi e nunca será para uma
mulher como ela e desde então evitava qualquer novidade amorosa, qualquer
sentimento mais forte que um dia já sentiu por alguém. Ela tinha medo do amor.
E
aquela noite, depois de tanta insistência de algumas amigas do trabalho, acabou
aceitando a carona e o convite para uma festa, de um colega do trabalho, Ângela
não o conhecia, apenas o viu algumas vezes pelos corredores, mas como
trabalhava num prédio de vinte andares, não dava para conhecer todo mundo.
Ainda mais ela que estava sempre atenta aos papeis e a tela do computador do
seu setor.
Gilda
e Carla fizeram grandes elogios quando a viu na portaria do prédio, pronta,
arrumada e perfumada.
—Demoramos
Ângela?
—Nem
um pouco Carla, e ainda tirei um cochilo, hoje o dia foi cansativo. Ufa.
—Hoje
foi mesmo— comentou Gilda no volante — Parece que adivinharam que tínhamos a
festa do Carlos Henrique para ir, acho que todos já devem ter chegado e que bom
Ângela que está indo com a gente.
As
três sorriram e num clima animado seguiram para a festa.
O
salão estava iluminado por luzes florescentes, a musica era agitada, tinha
mesas e cadeiras e em volta tinha um tablado que estava sendo usando pelo
dançarinos mais animados, a piscina também estava cercada por luzes coloridas e
algumas velas aromáticas e coloridas em pequeno barquinhos boiavam sobre a
água. Ângela gostou do ambiente, das musicas e da comida e também das bebidas
que eram servidas.
Quando
o aniversariante passou pela mesa onde Ângela estava, e com um tom educado
cumprimentou Carla e Gilda e quando aproximou de Ângela, pediu uma dança.
Ângela
não entendeu bem aquele pedido, e não foi pela musica alta, pois bem naquele
momento uma musica suave invadiu o salão e alguns casais começavam a dançar
pelo salão.
Ângela
presa naquele olhar sério e enigmático daquele homem que viu pouquíssimas
vezes, mas que era sempre gentil e solicito e ele até tinha enviado um cartão
de condolências quando ela perdeu o marido e um telefonema, mas ela não atendeu,
pois sofria muito com sua perda.
—Você
não se lembra de mim?
3
—Trabalhamos
juntos, não é?
—Não,
eu quero dizer, antes de tudo isso, antes mesmo do seu casamento com o Caio.
—Você
conhecia o Caio.
—Eu
conhecia vocês do clube, isso já tem alguns anos...
—Eu
sempre ia ao clube da família do Caio, na adolescência, mas não me lembro de
você, me desculpe Carlos.
—Não
se culpe Ângela, na época a timidez me proibia de muitas coisas, e uma das
quais não me perdoo era ter perdido você, ou melhor, a oportunidade de ter
conhecido você...
—Sério
isso Carlos? Eu nunca poderia suspeitar disso tudo que está me contando.
—Quando
nos encontramos novamente, eu separado e você casada, não poderia fazer nada,
mas agora quero tentar Ângela...
Ângela
olhava aquele homem alto, cabelos escuros, com um olhar bondoso onde sempre
cativava por onde passava.
E
que com aquelas palavras, sorrisos e ao som daquela musica, algo mexeu com ela,
ou porque não dizer, aqueceu o coração daquela jovem mulher que sofreu uma
grande desilusão amorosa após o casamento, pelo menos nunca deixou a carreira
estável para seguir com Caio, e nunca poderia imaginar que Carlos Henrique
sempre esteve a sua espera.
—Eu
ainda estou um pouco... Surpresa eu acho que essa é a melhor palavra para
definir o que estou sentido, afinal essa aqui é sua festa e não estava
preparada para ouvir tudo isso...
—Eu
pedi para que a trouxesse, sei que sai pouco e a Gilda disse que me ajudaria e
a Carla que é sua amiga disse que faria de tudo para trazê-la aqui se eu não perdesse a oportunidade de
contar o que sinto, na verdade o que venho guardando durante esse tempo todo.
A
voz macia, com pequenas pausas e um olhar fixo ao dela, foi assim o restante da
noite. Carlos a manteve ao seu lado a noite toda, dançaram, conversaram a noite
toda, de longe as amigas sorriam e brindavam ao novo casal.
Ângela
sorriu aquela noite.
Carlos
Henrique não queria mais esconder o que sentia por Ângela, e tinha decidido
isso que aquela noite e não deixaria o seu amor escapar, a menina mais linda do
clube, a mulher mais bonita do trabalho, que estava perdendo o brilho por conta
de um amor triste que ela viveu nos últimos anos.
E
decidido e com a ajuda de pessoas queridas, ele lutaria pelo amor daquela
mulher.
E
seria assim pelos os anos que seguiram...
Ângela
deixou Carlos entrar, não apenas na sua rotina, ou na roda familiar e sim no
seu coração para sempre, esquecendo de vez antigas lembranças.
Carlos
entrou nos espaços que Ângela foi permitindo e até o final ele só queria uma
única coisa, em amar para sempre aquela mulher.
Lágrimas
agora seriam só de felicidades.
(Fim)
c Roberta Del
Carlo c
Que lindo conto! Foi bom conhecer um pouco mais do seu trabalho... No começo, imaginei que Ângela reencontraria o ex-marido de alguma forma. Porém, contrariando uma hipótese, o desenrolar do texto me surpreendeu. Um tanto clichê, porém, de uma forma gostosa, suave e com um "je ne sais quoi" de realidade. Afinal, a vida imita a arte! ;)
ResponderExcluirBeijos, Roberta!
Seu Blog é ótimo... não resisti estou te seguindo... Adorei!
ResponderExcluirBjks
Blog Pensando e Aprendendo
http://sandraduarteborges.blogspot.com.br