Todas
as noites ela sempre chegava naquele bar por volta das dez da noite, tomava uma
dose. E depois partia.
Sempre
sozinha. Talvez esperasse alguém, mas a pessoa nunca chegava. Isso foi
acontecendo por dias, semanas, meses...
A
jovem mulher tinha uma beleza sedutora, dona de um perfume invadia todo o lugar,
mas não era uma fragrância barata, era algo mais sofisticado, quase hipnotizante.
Seus trajes escuros, roupas de uma grife famosa, seus cabelos simetricamente penteado,
sempre igual. Aquela mulher se tornou uma incógnita, o que será que tanto
procurava num lugar como aquele?
Às
vezes na noite, até o ultimo gole vinha um ou dois homens se aventurar, sempre
com perguntas cretinas ou cantadas mal elaboradas. Mas não tinha jeito, ela
nunca dava bola.
Até
que depois de um final de semana, ela não voltou mais.
Alguns
frequentadores assíduos comentaram sobre ela, mas o garçom não sabia lhe responder,
afinal a mulher não fazia mal a ninguém, apenas ficava no balcão, sempre na
primeira banqueta do canto esquerdo
e pedia um drinque, degustava e pagava e dava um educado “Boa Noite” e partia.
Mas
a movimentação e a novidade da noite, ela acabou sendo esquecida, pois outras
mulheres e drinques eram pedidos. A mulher caiu no esquecimento de todos...
O
que ninguém sabia era que aquela mulher que saia no meio da noite, toda
arrumada e perfumada, morava a poucas quadras dali. E que todas as noites deixavam
seus filhos aos cuidados de uma babá, paga pelo então ex-marido, que estava
numa reunião de negócios com uma jovem estagiaria que tinha aquela mania que
algumas têm de puxar o ‘inho’ em tudo
que falava, e que nunca encontrava nenhuma vestimenta adequada para o trabalho,
academia ou até mesmo fazer compras no supermercado, mas era questão de tempo,
que a jovem acabaria com a vida de alguém e que pena esse alguém era uma mulher
como Gloria, mãe de dois filhos pequenos, precisando atualizar o currículo para
voltar para o mercado de trabalho que continuava competitivo ainda mais do que
a cinco anos atrás quando deixou o
trabalho para ser tudo para aquela família e para o seu marido.
Ela
queria apenas fugir, por algumas horas, enquanto uns dormiam e outros viviam...
Mas
um dia ela viu que não era bem por ai e deixou de sair a noite.
Depois
de tanto correr com a vida, e voltar a entrar num velho jeans, e finalmente pegar
o novo certificado estava quase pronta para voltar...
Na
próxima semana sua rotina iria mudar, voltaria a trabalhar, seus filhos agora
iriam para a escola integral e ela não buscaria, não era maldade, ela apenas
sentia que tinha que ensina-los a desprender dela como um dia o seu marido fez...
Gloria
não queria ficar sozinha, mas sabia que tinha responsabilidades que eram apenas
dela...
Então
prometeu que de agora em diante nada de tomar drinque sozinha e não perderia
mais nenhum sonho...Mas que tipos de sonhos Gloria ainda teria?
Isso
ela teria que descobrir... Esse era o caminho que a chamava.
c Roberta Del
Carlo c
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