O céu é
o mesmo por cima de nossas cabeças, mas, o que muda é forma de como o
observamos.
O olhar de um pescador e de um executivo.
O pescador
acordou e olhou para o céu e o que viu foi um manto negro com estrelas. E antes
de deixar a sua casa e a sua família, fez uma oração para que a pesca naquela
madrugada fosse farta.
O executivo
acordou em seu quarto confortável, numa cobertura luxuosa e como sempre foi ordenado
para os empregados para que não abrissem as janelas antes das dez da manhã.
O pescador
voltava com o seu barco que precisava de uma nova camada de tinta, com os
cestos pela metade, o dia não tinha sido bom e ainda tinha que ser rápido para
vender na feira de pescado e torcer para que o comprador dessa vez dê um preço justo.
O executivo
preso no trânsito em seu carro blindado
com motorista, que nem sabia ao certo se
o chamava José ou João. E o hábito de
ler o jornal é que nunca tinha mudado ainda mais em momentos de crises, na
verdade o país vivia em crise!
E que logo
dezembro chegue para assim viajar com a terceira esposa e os filhos universitários
para esquiarem na Europa.
O pescador
ficou sem jeito quando viu os filhos chegarem da escola carregados seus livros,
mas só que mais uma vez naquele mês não daria para comprar o tênis novo para o
filho. E a esposa compreensiva, tinha pegado mais roupas para costurar.
A tarde,
foi no bar onde ficavam os outros pescadores e trabalhadores e não quis pendurar
mais nada no bar do seu Getúlio, pois o café de casa só iria durar mais dois ou
três dias e caso não tivesse dinheiro iria pendurar mais meio quilo de pó.
O executivo
almoçou ao lado de pessoas importantes da sua mesma linhagem e de interesses em
comum, no final daquele almoço num lugar tão refinado, sem muito olhar em volta
e pagou aquele almoço e o vinho mais caro do lugar, com grande satisfação.
O pescador ouviu uma conversa no bar do seu Getúlio que um dos moradores da
vila, tinha ido para cidade e, trabalhava numa fabrica ou algo assim e que
ganhava bem fazendo horas extras e tinha carteira assinada e morava num prédio
com sala e dois quarto. O pescador voltou para casa pensando naquela possibilidade,
na segurança que poderia dar a sua família.
O executivo tentou uma manobra naquela tarde na bolsa de
valores, aproveitando o palpite de um caro colega. Quase varou a noite para
fechar aquele negocio. E quando chegou em casa, foi então que lembrou do jantar
que sua esposa tinha marcado a mais de um mês. Agora ela dormia no quarto ao
lado e na sala da cobertura tinha estilhaços de algumas taças pelo chão.
O pescador estava decidido iria para a cidade, trabalharia
em tudo que aparecesse e quem sabe daqui um tempo, voltaria para o seu mar.
O executivo depois de uma manhã cheia e conturbada em casa e
na empresa sentiu uma dor e acordou em uma cama de hospital.
O pescador junto com a família começava a construir bloco
por bloco um muro alto e sem fim, dia a após dia, de sol a sol.
O tempo
passou...
O executivo recebeu ordens médicas e foi relaxar perto do
mar, mas já estava entediado com o balanço do mar, o céu azul e até das
caminhadas na areia da praia que já não achava graça alguma. A saudade dos edifícios
de concreto, que avistava da sua sala onde ficava horas e horas olhando da
janela as luzes acesas, os carros que pareciam miniatura, os aviões sobrevoando
o céu. Pra ele isso era vida.
O pescador cansado com o ritmo da cidade, do ar, da correria,
o dinheiro que vem e que vai e todo o consumismo e as filas em tudo que
precisava tanto na urgência como para a diversão, estava cansado e estava com
saudades do mar, do céu e do velho barco.
Mas, os dois tinham que viver, manter o que tinham mesmo
sendo tudo ou mesmo sendo o nada.
Presos e infelizes em seus mundos numa rotina impostas por
outros homens.
Fim
c Roberta Del
Carlo c
Dois mundos diferentes. Rotinas que entendiam ricos e pobres.
ResponderExcluirQue texto lindo... Vivemos presos em mundos que muitas vezes não sonhamos, mas que necessitamos... Parabéns Rô... adorei!
ResponderExcluirDel Carlo, sua visão magnânima é realmente inspiradora. Aliás, estenderia o texto - que, para mim, mais parece uma crônica divina - e o transformaria em livro, confio na sua capacidade para isso. Explore os dois mundos, avive os personagens, dando-lhes nomes. Obviamente, esqueci os pormenores, como erros de pontuação, sendo que não encontrei nenhum lapso gramatical. E tudo por culpa da essência primorosa das suas palavras. Faça com que ambos se encontrem em determinado momento, pescador e empresário executivo, cruze os destinos... um precisará do outro, tal como o médico necessita do mecânico para fazer seu carro funcionar e, assim, seguir à sua jornada de trabalho: salvar vidas. Compreende?
ResponderExcluirEnfim, apenas uma sugestão dessa que já se tornou sua fã.
Um grande beijo!!!