Depois de um bom tempo sem escrever vou postar esse conto que escrevi já tem um ano, e estava guardado até agora...
O Quadro
Apenas
uma nota, apenas um toque de piano, e o som ecoaram pela sala inteira.
Que saudade
Essa
era a definição para Ligia, que estava ali de volta.
A
velha casa de campo da família, o lugar que mais amou e odiou por uma vida
inteira, e que agora passaria ter novos donos, novos sonhos e novas lembranças.
Ligia
agora era uma mulher madura, tinha conquistado tudo o que queria, tinha uma
carreira estável e bem sucedida como arquiteta, morava num belo apartamento num
bairro nobre, tinha amigos, frequentava bons lugares, convites nunca faltaram,
suas conquistas amorosas não deixam nada a desejar para as estrelas da mídia.
Mas
no fundo, tinha algo que a incomodava, e que ninguém nunca conseguiu entender quem
sabe agora passando aquela casa adiante, ela não conseguiria também deixar outra
Ligia para trás.
As
pessoas não voltam.
A
sua mãe não voltaria mais, sua infância não voltaria e nem mesmo os melhores momentos.
Mas
tem um dia em especial, que Ligia nunca mais esqueceu.
Só
que tinha que se esquecer de toda aquela bobagem, precisava olhar a casa, já
que foi intimada por um e-mail da irmã que a comunicava que a casa do campo
seria vendida, que sua parte seria depositada o mais rápido, e que se quisesse
ver a casa e até buscar algum objeto para guardar, que o melhor dia seria na
sexta-feira, pois no sábado o pai delas junto com nova esposa, passaria por lá para fazer o mesmo.
Então
naquela manhã assim que ligou para o escritório seguiu para o interior.
Era hora de matar os fantasmas.
Ligia
começou a andar pela casa, que um dia foi o sonho da sua mãe, que assim que os
filhos crescessem, ela e o marido se mudariam para lá, pois era calmo, bonito,
tinha tudo o que ela queria e precisava.
Todo
final de semana era uma festa, a festa da sua mãe, a festa da Rose.
Não
tinha um final de semana que passavam só eles, a família, pois sempre tinha
amigos, parentes, e assim foram muitos finais de semana, feriados, férias.
Mas
Ligia odiava, parecia que ninguém nunca tinha um tempo só pra ela, talvez seja
por esse motivo que o seu pai em um dia de fúria a chamou de egoísta.
E
continuou seguindo cômodo por cômodo até
chegar no quarto dos pais, e ficou surpresa pelo que viu ali, que nada mais era
o quadro.
O
quadro da sua mãe ficou naquele quarto, todos aqueles anos e foi o que ela mais pensou em buscar que era, o
quadro.
O
quadro que sua mãe pintou, para mostrar para todo mundo que suas aulas de pintura não foram em vão,
talvez ela quisesse fazer um auto-retrato, mas para a ironia dela todo acharam
que eram apenas borrões.
As
lembranças daquele dia que a dona Rose apresentou o quadro tão esperado por
todos, talvez tenha sido, o ultimo dia feliz em família, antes de a doença ter chegado.
Então pegou o quadro com cuidado, e levou para o carro.
Ligia
já estava abrindo a porta do carro, quando se deparou com uma menina, que
estava no balanço, o mesmo que ela brincou por muitas vezes. A primeira vontade
era dar uma bronca. Como aquela menina entrou ali, mas logo passou esse
pensamento.
—
Oi
Disse
a menina, que devia ter uns seis ou sete anos de idade, era sorridente, tinha
cabelos castanhos um pouco ondulados, usava um vestidinho cor de rosa.
—
Oi— respondeu Ligia — Como entrou aqui mocinha? Seus pais não vão gostar nada,
então é melhor ir.
—O
que tem ai em suas mãos? Porque está guardando no carro?
—É
um quadro, não está vendo?
—Eu
posso ver? —Perguntou a menina, com um olhar curioso, deixando a balança, e indo
mais perto de Ligia para pode ver a imagem.
Ligia
meio a contra gostou, mostrou o quadro, enquanto a menina olhava com
curiosidade e meiguice, e então disse apontando para o quadro.
—AH!
É uma família! Não é? É sim uma família
olha um pai, uma mãe e três crianças, mas quem é você aqui?
—
Eu já mostrei o quadro, agora chega de perguntas. Eu preciso ir embora agora, e
então me mostre a sua casa que eu a levarei.
—Espera,
deixa-me ficar, posso conhecer a sua casa?
Mas
a menina não esperou por resposta, logo saiu correndo para dentro da casa.
Ligia
deixou o quadro em pé ali mesmo no chão encostado no carro e correu para pegar
a menina atrevida.
—Menina,
eu não tenho tempo para correr atrás de você, agora vamos embora, vamos a sua
mãe deve estar preocupada!
Ligia
falava alto pela casa, procurando a menina com o olhar, quando ouviu barulho
vindo da cozinha.
A
menina agora ocupava uma das cadeiras e comia uma maça.
—Onde
pegou essa maça?
—Oras,
lá no fundo, mas não peguei do chão não, quer uma mordida?
Ligia
olhou da janela da cozinha e viu uma grande macieira que foi seus pais que
plantaram, mas que nunca tinha crescido e agora era uma frondosa árvore de maças.
—Vão
vender a casa não é?
—Como
sabe disso?
—Eu
sei de tudo, bom quase tudo.
A
menina tinha um olhar forte e ao mesmo tempo delicado parecia e parecia
ter entrado na cabeça da Ligia.
“Se você pudesse
voltar no tempo, o que mudaria? Vamos Ligia não tenha medo, sou sua amiga e eu
posso levar você agora, não tenha medo, pegue na minha mão, vem Ligia”
A
voz da garotinha estava dentro da cabeça da Ligia, que não teve forças a não
ser tocar na mãozinha que era oferecida, e quando suas mãos se tocaram, tudo
começou a girar. Ligia olhou para a porta de entrada, e viu seus pais entrando,
e carregando um quadro.
“Eu sei que de tantos dias felizes, você sempre volta
nesse, quando sua mãe mostrou o quadro,
ela queria ver uma boa reação de todos vocês, mas você não sorriu, e foi a
primeira dizer que era feio, e que você não era aquela figura do quadro ao lado
do seu pai.Ainda se sente culpada, e acha que sua mãe adoeceu por causa desse
dia, não é Ligia?”
As
lagrimas que Ligia deixou cair eram as resposta.
E
foi se aproximando, olhando aquela cena, agora dessa vez como uma simples telespectadora.
Seus
pais entraram chamando todos na sala, porque a mãe queria mostrar algo, Ligia
chegou por ultimo, estava de mau humor, tinha brigado com sua melhor amiga
porque agora namorava o menino que Ligia sempre gostou. Aquele momento da sua
vida parecia que ninguém a entendia, ninguém era seu amigo, até mesmo a sua
mãe.
—O
que acharam? Vamos digam alguma coisa, sua mãe quer a opinião de vocês— O pai
olhava para os filhos, um pouco aflito, com medo da sinceridade deles. Cada um
disse uma coisa, ou perguntou o que era isso ou aquilo?
Mas
o olhar da Rose fixou em Ligia
—E
você querida, o que achou?
Ligia
e a pequena menina olhavam a cena.
Eu respondi que estava horrível, que ela não tinha nada
que está pintando, ou pintar a família, que ela não passava de uma idiota, foi
isso que eu respondi, eu me tranquei no quarto, fiquei de castigo, durante a
noite eu a ouvi chorando, eu tinha quinze anos, e não voltei mais aqui, e
dentro de um ano ela faleceu.
A
menina pegou a sua mão e sorriu
—Não se culpe, ela já estava doente, mas não
queria contar, por isso que o seu presente não mudará em nada, mas se quiser
pode fazer algo diferente, como agora, é sua única chance Ligia.
Então
Ligia começou a falar as palavras que ficaram presas nos últimos anos, e a
Ligia de quinze anos começou a repetir tudo.
—
Que lindo minha mãe, a sua arte é
incrível, a senhora poderia pintar mais, que tal um quadro para cada filho ou
pintar o pai? O que acha mãe eu gostei muito!
Aquela
frase realmente surgiu um grande efeito, pois Rose ficou emocionada e sorriu. E
seu irmão disse num tom provocativo.
—
Tem certeza Ligia? Você parece um borrão ali ó, veja...
Ligia
olhou para sua mãe e disse
—Não
importa se eu me pareço com um borrão, mas sou o borrão da minha mãe.
—Oh
querida! — disse Rose que a abraçou.
Ligia
mais nova a abraçou forte, e enquanto a Ligia mais velha sentia aquele abraço
quente, com cheiro e carinho de mãe.
E
tudo de repente mudou e passou rapidamente, como uma fita cassete sendo
rebobinando diante dos olhos.
Nada
mudaria o ciclo, ela não conseguiria evitar a perda, nem a saudade, nem mesmo a
distância, pois todos cresceram, casaram, viajaram.
Mas
Ligia se sentiu mais leve mais livre...
E
acordou! E viu que estava deitada no sofá da casa de campo, e que continuava do
jeito que estava quando entrou, e lembrou-se da menina, e saiu procurando pela
casa, mas não tinha ninguém, estava só.
Antes
de fechar a casa voltou para ver a árvore que ainda estava lá, carregada de
maças.
Ligia
sorriu, e agora estava na hora de partir.
Chegando
no carro, arrumou melhor o quadro no banco de trás, com o maior cuidado, quando
o seu celular tocou. Era o seu noivo, ela tinha aceitado o pedido só tinha duas semanas.
E
conversaram amigavelmente, Pedro estaria a sua espera em casa.
Ligia
sentia uma felicidade imensa, que parecia não caber mais dentro dela.
Entrou
no carro, e se preparava para partir, lembrou-se da menina, que era tão pequena
e tão esperta, talvez fosse um anjo. Quem sabe não é.
Assim
que passou pelo portão de madeira, voltou para trancá-lo, quando viu um casal
se aproximando e que pararam na casa ao lado, pelo jeito pareciam estar
chegando do mercado.
O
casal a cumprimentou de longe, entre acenos e sorrisos, pois quem tinha amizade
com os vizinhos e sabia o nome de todos era o seu pai.
Agora
ela tinha que seguir a vida, levando uma recordação da sua mãe, a casa logo
estaria em outras mãos, pois foi assim que a maioria quis, e agora ela voltaria
para a sua vida, o seu futuro casamento, ao seu futuro.
Quando
estava quase dobrando a rua, viu duas crianças na calçada correndo na direção
do casal, eram pequenas e sorridentes, e uma delas chamou a sua atenção, uma
das meninas era idêntica a do seu sonho, e a menina também a olhou e sorriu, e
parando e acenando para Ligia, que quando olhou para elas pode
ver a mãe chamando as meninas e foi nítido, a mulher chamou aquela menina que
parecia a mesma do seu sonho, a que entrou na casa brincou no balanço e comeu
uma maça, a mulher gritou um nome, esse nome era:
Rose!
E
a menina correu para a mãe e entrou na casa.
Lígia
mesmo em choque com aquela cena, continuou dirigindo, mesmo querendo voltar.
Mas seguiu em frente. Seguiu a vida que á chamava, porque ela sabia que o tempo
agora era um amigo precioso, que não voltava para novos quadros serem pintados agora
é o futuro que vai ser colorido.
Fim
c Roberta Del
Carlo c
.
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