*Esse conto é fictício, apesar do evento ser verdadeiro os fatos não são reais. 😊😉
— Um baile?
— Sim senhora e não se fala em outra coisa na
cidade.
— Que despautério – reclamou a mulher que agitava o
leque num vai-e-vem insistente para sanar o calor daquela manhã — E o meu
convite?
A pobre serviçal e portadora dos mexericos, ficou um
tanto sem jeito, quando a patroa reclamou dos seus direitos, afinal quando o
seu falecido marido serviu a monarquia bravamente nas expedições, a mulher era
sempre convidada para participar dos jantares e passeios ao lado da realeza. E
agora estava esquecida.
Clarice Montenegro, ou melhor a Madame Clarice foi
casada com um dos generais do Rei mas esse perdeu a vida no mar em uma das
expedições, segundo os comentários o navio afundou mas ainda quem diga que o
homem com um grupo de marinheiros, levou a fortuna para bem longe dali e viviam
com uma nova identidade.
Madame Clarice logo tratou de contar a grande
trajetória do marido nos jornais, contando que o homem era um homem bom, fiel e
cumpridor dos seus deveres e que morreu defendendo a sua pátria.
Ela queria acreditar nisso já que o Imperador também
não culpou ninguém pela perda e sim as causas da natureza.
Mas, a vida da madame ficou monótona demais já que
não era mais convidada para nada ainda mais na Ilha Fiscal, que era um grande
cartão postal da cidade do Rio.
E quando a sua serviçal chegou com tal novidade,
achou melhor agir.
O baile aconteceria no dia nove de novembro, o ano
era mil oitocentos oitenta e nove e a política sempre regeu os grandes acontecimentos
desse país e aquele baile com toda certeza seria para anunciar algo novo,
inquietante e surpreendente- assim pensou Madame Clarice.
A mulher então escolheu uma das suas melhores
vestes, pingou algumas gotas do seu melhor perfume que já estava no fim e tinha
sido presente do falecido marido. A viúva sentia falta do marido ainda mais dos
presentes que agora começava a faltar.
O seu destino era fazer uma visita ao Barão de
Sampaio Viana, que era o organizador de todo aquele evento a pedido do Visconde.
Só que Madame Clarice não foi recebida, afinal os convites estavam sendo
entregues mas nenhum dos dois mil convites tinham chegado no casebre de Madame
Montenegro.
A mulher ficou furiosa, mesmo com um sorriso amável
e uma educação exemplar só que não deixou por menos e antes de partir,
dilacerou.
— O Imperador deveria saber como os seus homens
articulam por suas costas.
— A Madame está nervosa e é compreensível – disse o
secretário do Barão, que apenas olhava a mulher que tinha sido esquecida pela
atual sociedade daquela cidade — Pedimos desculpas pelo o atraso do convite, é
que essa festa é para a cidade senhora mas acontecerá outros e não esqueceremos
do seu nome e prestigio.
— Esse será o último baile da Ilha- rebateu Madame
Montenegro — E fico mais ofendida em acreditar que meu marido faleceu no mar
por nada.
— O que está insinuando senhora? - Perguntou Barão
com um olhar severo.
— Eu estou indo agora comprar o melhor vestido e
terei o meu baile. Adeus!
A mulher deixou o gabinete pisando duro e com o
olhos fixos para a saída.
— Pobre viúva...- disse o homem mais jovem
— Ela vai piorar quando souber o que vem por ai...-
Falou Barão com semblante agora mais calmo — E vou pedir para que esqueça a
visita dessa mulher aqui no dia de hoje, tanto você e os demais que trabalham
aqui. O marido dela foi de grande serventia por um tempo e depois desse baile
uma nova história vai ser escrita nessas terras e pessoas como a madame vai ter
que aceitar.
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Madame Montenegro pegou uma gorda quantia de suas
economias e comprou o vestido mais lindo da loja que era situada na rua do
Ouvidor. O vestido era um vermelho escuro de chamalote de veludo, os sapatos de
camurça mandou fazer na rua do Carmo e ainda pagou uma alta nota para ser feita
com perfeição e rapidez e dessa vez usaria as joias que ganhou do marido quando
completaram dez anos de casamento, um conjunto de rubis.
Madame apenas pensava “dois mil convites espalhados
nessa cidade e nenhum para minha pessoa, mas ainda sim serei a mulher mais
bonita desse baile, mesmo nesse calor que queima até mesmo na penumbra”
O dia do baile.

A noite chegou e assim dava para enxergar a
belíssima iluminação da ilha Fiscal. E apesar do número de convidados ser
abrangentes ainda sim ficou pessoas importantes do lado de fora, em seus barcos
com suas famílias apenas observando as pessoas dançarem, beberem e escutando a
seletiva canções para a tal festa.
Madame Clarice estava só andando nas ruas de pedras,
levando a sua melhor bebida de sua casa e uma taça de cristal. E com passos
lentos, degustava sozinha a sua bebida e escutando de longe a agitação da
festa, lembrando como era divertido e como gostava de dançar com seu amado e
falecido marido.
Quando estava perto da praia, ainda só e terminando
o liquido doce, ouviu alguém chamar o seu nome.
Clarice olhou alarmada em volta, dando se conta que
estava um pouco longe de casa e só e com belas joias.
—Não se assuste sou eu. Aqui!
A mulher assustada, deixou a garrafa cair no chão e
começou a correr, só que foi em vão, os sapatos novos logo se desprenderam de
um dos seus pés fazendo com que a mulher caísse na areia fofa e uma mão forte a
dominou.
— Não! Por favor! Não faça nada comigo! Leve as
joias...leve!
— As joias que eu lhe dei?
Os olhos de Madame não acreditavam no que avistava.
Primeiro o terror, em seguida a surpresa e depois a felicidade.
— Você...
— Achou que eu a deixaria morrer de exaustão nessas
terras que mais parece o Saara minha senhora?
— Montenegro achei que tivesse...Eu e a cidade
inteira...
— Não me chamo mais Montenegro. Agora sou Martins
Correia e sou dono de uma vinícola no sul de Portugal, lá eu que mando.
— Já faz três anos...
— E o meu amor por ti nunca apagou e Tu?
— Sinto tanto a sua falta...
— Então vamos embora e tem que ser agora, antes que
o baile acabe.
— Espere! Como assim? E o Imperador e o seu acidente
no mar...
— Um dia explicarei minha Clarice e vamos porque
amanhã o Imperador será deposto do cargo, a monarquia chegou ao fim.
— Que história é essa marido?
— Não temos tempo. Vamos partir agora.
Clarice seguiu Montenegro que agora era Martins
Correia para o porto e sem alardes entraram em um barco de sete velas e logo
deixaram o Rio de Janeiro e muitas horas mais tarde, chegariam a Portugal. Lá
viveriam como reis, só que clandestinamente e presentes é que nunca mais
faltaria para Clarice que agora tinha o seu marido para todo sempre.
O todo sempre...
Quando foi no dia seguinte encontraram um dos
sapatos de madame Montenegro na areia da praia e uma garrafa. Logo a notícia
foi espalhada. A madame não aguentou a golpe e se suicidou no mar carioca,
sendo uma vítima do Reino assim como seu marido.
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c Roberta Del Carlo c
Nossa, muito surpreendente o final.
ResponderExcluirAmei a história. <3